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Motivação para concursos: quer um puxão de orelhas?

Caros concurseiros, aqui é o professor Alexandre Meirelles, resolvi publicar novamente este meu texto que escrevi originalmente em 2007 (e que já havia atualizado no ano passado) devido aos inúmeros e-mails que tenho recebido de candidatos desanimados e desesperados pela escassez de concursos. Espero que este post ajude você a refletir sobre motivação para concursos públicos e algumas coisas. Vamos a ele:

O ano de 2007 foi um dos piores anos em termos de concursos para a área fiscal. Houve dois concursos no início do ano, um para o ICMS-CE (300 vagas) e outro para Fiscal da Prefeitura de SP (170 vagas). No final do ano teve o Fiscal do ICMS-RJ (70 vagas) que só aprovou 37 candidatos, graças à sua prova absurda. Bem verdade que houve outro concurso em área parecida, o do TCU, mas também com poucas vagas. Não houve as meninas dos olhos de quase todos, o AFRFB e o ATRFB, também nada de ICMS-SP, ICMS-MG e outros ICMS nas demais regiões do Brasil.

Mas o que fazer numa época de escassez assim, como o que temos visto em 2015 e 2016? O quê contar para seus familiares e amigos? Como convencê-los de que você fez uma boa opção ao largar seu emprego ou dar menos atenção a eles quando decidiu estudar para um concurso? É difícil, tenho certeza disso. Mas o mais importante é que VOCÊ esteja convencido que isso valerá a pena!

Quando começou nessa vida, se alguém disse a você que seria fácil, ou mentiu ou tem uma visão muito distorcida da realidade. NÃO É FÁCIL NÃO! É brabo mesmo, é pauleira pura! Quase todos ainda vão viver momentos muito difíceis até alcançarem seus cargos tão sonhados. No final de 2007 li uma mensagem no finado orkut de uma menina espetacular que dizia: “Se seus sonhos estiverem nas nuvens, não se preocupe, pois eles estão no lugar certo; agora, construa os alicerces“. E quais são os alicerces para um concurseiro? Ora bolas, as famosas e maravilhosas HBCs (horas-bunda-cadeira).

Se você começou a estudar há poucos meses, talvez esteja muito perdido e não esteja sofrendo tanto ainda. Mas e quem está estudando para a área fiscal há dois anos ou mais? Acredito que esteja passando momentos muito difíceis mesmo.

Lembre-se: concurso não é um projeto de curto prazo há muito tempo. É de médio e longo prazo, saiba disso. Essa é a regra. Lógico que você sempre encontrará quem conseguiu passar em um curto prazo de tempo, tipo 6 meses ou 1 ano. Tenha certeza: é uma exceção. Principalmente pela imprevisibilidade dos concursos públicos.

Geralmente as pessoas acreditam que PRECISAM passar em um concurso público por algum(ns) dos motivos abaixo:

  1. não veem futuro no seu emprego na iniciativa privada;

  2. não aguentam mais presenciar puxadas de tapete, falsidades, gente interesseira e puxa-sacos;

  3. não conseguem um emprego decente;

  4. querem ter mais tempo e saúde para curtir sua família e amigos;

  5. buscam estabilidade;

  6. não querem mais trabalhar vários finais de semana, feriados e férias;

  7. possuem alguma característica física que injustamente o prejudicam, por mais absurdo e odiável que isso ainda seja assim: é índio, negro, tem alguma deficiência física etc.

Se você possui algum desses motivos, para melhorar sua vida, meu amigo, você vai ter que ralar mais do que bunda de cobra. Vai ter que acumular centenas ou milhares de HBCs, não tem outro jeito. Aliás, há sim, você pode ganhar na mega-sena, casar com alguém rico somente por interesse ou receber alguma herança maravilhosa. Mas essas chances são bem menores estatisticamente ou são desprezíveis socialmente (como é o caso de se casar só por interesse financeiro).

Muitos de vocês são muito imediatistas, principalmente os mais jovens. Alguns se ferraram na iniciativa privada e acham que encontraram a galinha dos ovos de ouro: “o concurso público”. E se baseiam em desempenhos de familiares ou amigos que viraram fiscal ou algo parecido estudando menos de um ano. Lembre-se que o maior fenômeno da história dos concursos da área fiscal até hoje, o saudoso Deme, estudou muito por TRÊS anos.

Quando estudei para o AFRF, eu sentia muita dor nas costas. Tomava dorflex igual água e até algumas injeções levei. Quando cheguei ao Curso de Formação (CF) vi vários jovens com muito mais saúde do que eu. E achava legal contar a eles que as dores me atrapalharam demais, mas mesmo assim consegui passar. Até que comecei (e bastaram poucos dias no CF para isso) a ouvir várias histórias de gente que tinha sofrido muito mais do que eu. E após esses 11 anos, fui ouvindo cada vez mais histórias. Eu já era fiscal de ISS em BH, o que me garantia muito menos pressão e dinheiro para comprar livros, coisas que muitos não tiveram. Fora uma ex-esposa e família que me apoiaram o tempo todo. E no CF vi vários colegas que estudaram totalmente sem grana, com filhos para criar, com total falta de apoio familiar, que estudaram por dois ou mais anos sem parar etc. E comecei a me achar um agraciado por Deus por não ter sofrido nada daquilo. Eu era um felizardo.

Nessas minhas andanças ajudando o pessoal com minhas palestras, ouvi dois casos bem interessantes e verídicos.

O primeiro foi de uma moça que era analfabeta e empregada doméstica na Bahia. Sua patroa estava cansada dela não saber anotar nem os recados dos telefonemas. E motivou-a a estudar. Ela fez Telecurso e escolas públicas, não sei ao certo o quanto de cada, e se formou no ensino médio. Não satisfeita, fez vestibular e passou para uma faculdade pública. Formou-se e estudou para concursos. Foi aprovada para Técnica da Receita Federal, atual ATRFB. Já pensaram nisso? Uma ex-analfabeta aprovada em um concurso de alto nível? E você acha que ela ficou satisfeita? Claro que não, afinal, ela teve uma base tão forte nos estudos desde pequena quanto você, fez cursos e escolas pagos pelos pais, sempre se alimentou bem como você, teve bons empregos etc. Igualzinho a você. Ora, se você não se contentaria “só” em ser ATRFB, por que ela não? Pois bem, ela continuou estudando e foi aprovada no AFRFB de 2005. Sim, ela é Auditora Fiscal da Receita Federal do Brasil.

Analfabeta-min-Motivação-para-concursos

Será que sua família sente orgulho dela? Você vai ter que passar por algo perto do que ela passou? Acredito que não, então não reclame da sua vida de concurseiro, porque enquanto você reclama, há ex-empregadas domésticas analfabetas estudando e passando no lugar de quem reclama.

Tem outro caso também, esse de um homem. Ele era bem pobre, nem luz havia em sua casa. Só podia estudar de dia, quando havia a luz natural. Mas depois de um tempo percebeu que tinha que estudar à noite também, porque só de dia não era suficiente. E começou a estudar à noite, sentado na rua, debaixo da luz do poste. Grana para livros é até piada você imaginar que ele tinha, lógico que não. Utilizava livros de bibliotecas públicas e materiais emprestados ou doados, dentre os quais vários desatualizados. Estudou por quase 10 anos assim. DEZ ANOS!!! E muitos de vocês pensariam: “coitado, vai ficar a vida inteira assim e não vai passar“. E foi aprovado para AFRFB também. Por acaso, você precisa estudar à noite debaixo da luz do poste?

Estudando-Poste-min-Motivação-para-concursos

Bem, esses dois, e tantos outros em condições similares, conseguiram, e você continua por aí, se achando o coitadinho e o último dos homens por que não saiu ainda o edital que sonha?

Pare de reclamar da vida. Você tem à sua frente tudo que precisa para melhorá-la e acabar definitivamente com muitos dos seus problemas: livros. Seja qual for sua religião, e deixo claro que respeito todas, a partir do momento que você resolveu virar concurseiro, só uma coisa irá salvá-lo das trevas em que sua vida se encontra: os livros!

Acredite em mim. A emoção de ser aprovado em um bom concurso vale a pena. Será uma das melhores sensações que você vai ter em sua vida. Para mim, até o dia em que eu tive meu filho, oito anos depois, o dia 16 de janeiro de 2006, dia do resultado do AFRFB, foi o dia mais feliz da minha vida, nesses quase 46 anos bem vividos. Foi o dia em que eu olhei para o mundo todo e disse a ele: “Eu venci você! Até hoje você foi melhor do que eu, mas a partir de hoje EU sou melhor do que você!“.

Até hoje, em todas as palestras que eu dei, não consegui segurar os olhos cheios d´água quando falei desse dia. Em 2007 eu dei uma palestra na inauguração do curso do meu amigo professor Cláudio Borba, em Campos-RJ. Foram dois dias de evento, na sexta o William Douglas deu uma palestra e no sábado foi minha vez, dentre outros colegas. Durante minha palestra, na hora em que eu lembrei desse dia, comecei a querer chorar, perdi a voz e pedi desculpas aos mais de 200 presentes pelo meu mico, todo envergonhado. Fazia mais de um ano que tinha saído o resultado e eu ainda não conseguia falar no assunto sem chorar. E até hoje não consigo. Aí acabou a palestra e o Borba veio ao palco, com lágrimas nos olhos também. E ele me disse, perante todos: “Alexandre, não fique envergonhado por chorar em público após lembrar do dia da sua aprovação, porque acabei de descobrir que passados 18 anos do dia que passei para Fiscal de ICMS-RJ, em 1989, eu também não consigo me lembrar sem chorar, e obrigado por me fazer chorar, coisa que não fazia há tanto tempo, ainda mais de alegria“. E contou sua história, que desde já me desculpo se eu errar alguns detalhes, porque eu estava bem emocionado – e envergonhado com o mico que havia pago – e não consegui gravar tudo com detalhes.

Ele tinha quatro filhos (e ainda os tem, ainda bem) quando ficou desempregado. Desesperou-se, é claro. O dinheiro guardado logo acabou, não conseguiu emprego e resolveu fazer o mesmo que você, estudar para concurso. Mas naquela época havia poucos concursos sérios, nem a CF de 88 tinha sido publicada ainda. Imperava ainda um pouco de indicação política e cambalacho nas provas (e tem alguns de vocês que jogam praga nos concursos quando eles aparecem, deveriam morder a língua quando falassem isso). Mas como manter sua família (quatro filhos e esposa), sem emprego, nada? Sabe o quê ele fez para sobreviver? Fabricou gaiolas de passarinho à mão. Sério. Gaiolas de passarinho! Passou meses, anos, fazendo gaiolas em casa e enchendo seu corcel velho (era o corcel I, nem era o II!) para vender na rua. Muitas vezes nem a grana da gasolina gasta no dia ele conseguia. E foi estudando. Até que veio o concurso para fiscal de ICMS do Rio, em 89, o último até o de 2007, e conseguiu sua aprovação.

Gaiola2-min-Motivação-para-concursos

Eis uma imagem do corcel, caso você não o tenha conhecido (minha mãe tinha um, então sei bem como era muito pior que qualquer uno mille de hoje):

Corcel-Motivação-para-concursos

E você acha que ele passou pouco tempo nessa vida sofrida que você leva hoje, meu amigo? Não, foram quatro ou seis anos (não lembro exatamente) nessa vida de concurseiro vendedor de gaiolas. Só que ainda não tinha acabado seu martírio. Era o último mês do governo Moreira Franco, e nada dele empossar a galera. Brizola eleito e logo disse que não chamaria o pessoal depois que assumisse. Sim, até poucos anos ser aprovado não era garantia nenhuma, porque o governo nomeava se quisesse, e era comum um governante não nomear aprovados em concursos realizados por seus desafetos anteriores.

Você sabia?

Os fundadores e sócios da Estudaqui foram aprovados nos melhores vestibulares (USP/FUVEST, UFSCAR, UNIFESP etc) e também nos melhores concursos do Brasil (Auditor Fiscal de SP, do MT, do ES etc). E o projeto da Estudaqui foi validado por eles em alguns dos melhores cursos de empreendedorismo do mundo (Stanford, UC Berkely e Draper University), no Vale do Silício, na Califórnia.

Conheça nossa história e o aplicativo de estudo da Estudaqui, e também continue lendo :).

Bem, voltando, eram os últimos dias de Moreira Franco e as gaiolas de passarinho ali, olhando para o Borba, como quem pergunta: “E aí, será que você vai ter que continuar vivendo assim, como vendedor de gaiolas?“. Até que ele descobriu que o Moreira iria inaugurar uma nova área da Refinaria de Duque de Caxias. No desespero, pegou mais quatro colegas aprovados, lotou seu corcelzinho caindo aos pedaços e foi atrás do homem. Moreira chegando de helicóptero e eles o seguindo no “possante”. O helicóptero fazia uma curva e eles lá embaixo, seguindo o bicho em sua máquina produzida por Henry Ford. Parece comédia, mas é sério, coloque-se na pele dele para entender a dramaticidade da situação. O helicóptero pousou e adivinhe quem estava lá, esperando o Governador sair do helicóptero, antes que a direção da refinaria e a imprensa chegassem antes? Borba e seus amigos, claro. Fiscal bom é isso aí, chega antes da “sonegação” prescrever. Quando o Moreira saiu do helicóptero, deu de cara com os cinco concurseiros e ouviu deles: “Governador, desculpe-nos, mas estamos desesperados. Fomos aprovados para Fiscal de ICMS, o senhor ainda não nos nomeou, o Estado precisa de mais fiscais e o Brizola já disse que não nos nomeará“. E ouviu do Moreira, já com a imprensa etc. chegando: “Podem ir para casa, vou resolver isso“. E na mesma semana ele nomeou o restante dos aprovados, dentre eles, os cinco colegas perseguidores de helicóptero.

Você pode estar rindo agora, mas eu não queria estar na pele dele. Perseguir um helicóptero de corcelzinho não deve ser uma emoção muito legal, ainda mais com o futuro de sua família em jogo. Foi nomeado e logo depois aconteceu, aí sim, uma situação engraçada. Nesses anos todos dirigindo seu corcel ele nunca foi parado pela polícia. Era um carro todo ferrado, com farol quebrado, sem seta e luz de freio, pneus extremamente carecas, IPVAs atrasados etc. Enfim, tudo errado. E logo que tomou posse, ainda sem dinheiro para trocar o possante, foi parado por um guarda. O policial falou: “Meu amigo, você só pode estar brincando comigo. Pneus carecas, seta não funciona etc. Vou apreender seu carro, ainda mais que está com o IPVA sem pagar“. E o Borba respondeu: “policial, tudo bem, mas não cabe ao senhor apreender o meu carro por falta de pagamento de IPVA, não é da competência da polícia verificar o pagamento desse imposto“. E o policial retrucou de pronto: “Ah é, então é de quem a competência para isso?“. E o Borba, cheio de marra, como quase todo fiscal recém-empossado: “É MINHA!“. Após alguma conversa, que logicamente ficou bem mais amigável depois disso, o Borba levou o possante embora, todo feliz pensando: “Se eu ainda vendesse gaiolas, estaria sem meu possante a essa hora, ainda bem que sou fiscal agora, sou o bonitão da parada“.

Ele é Auditor Fiscal do ICMS-RJ até hoje. Graças à citada perseguição, a muitos anos de estudo e a muitas gaiolas fabricadas manualmente, as mesmas mãos que desde 1990 contribui com a arrecadação fluminense, para o governo pagar suas despesas e realizar diversos investimentos sociais. Será que valeu a pena todo aquele esforço? E você, que anda reclamando de sua vida de concurseiro, está fabricando gaiolas de passarinho para vender na rua e pagar seus livros e cursos? Acredito que não, mas se está fazendo algo parecido, meus parabéns, já provei com exemplos que você também poderá chegar ao cargo dos sonhos.

Continuando a história da emoção de ter passado em um concurso, uma vez assisti a uma palestra do William Douglas, em SP. Sei lá quantas já vezes já tive esse prazer. E quando ele falou da emoção de vencer na vida passando em um concurso, vi seus olhos encherem de lágrimas, mas macaco velho que é, conseguiu segurar mais do que eu a emoção. E eu, lá atrás, enchi meus olhos também e pensei: “Os concurseiros ainda não entendem essa nossa emoção ao falar das nossas aprovações, mas um dia, quando eles passarem, irão nos entender“.

Numa Feira do Concurso, em agosto de 2007, houve uma palestra da Lia Salgado. Ela foi entrevistada em um programa de TV e resolveu passar o programa no final da palestra. Ele mostrava a Lia com seus quatro filhos (não pensem que ela é a esposa do Borba, os dois são dois doidos que tiveram quatro filhos cada um antes de serem fiscais, mas não em comum, para que fique bem claro). E a Lia e seus filhos diziam das dificuldades que passaram naqueles três ou quatro anos dela estudando, sem grana e sem poder dar muita atenção a eles. E ela sempre dizendo a eles: “Calma, meus filhos, quando a mamãe passar ela vai poder comprar uma comida melhor, mais presentes, ter mais tempo para vocês etc.“. E vinha mais um concurso, mais expectativas e mais decepções com suas reprovações. Até que foi aprovada em 5º lugar para Fiscal de ISS no Rio, em 2002. E no final do programa mostrou os filhos dizendo que hoje era tudo melhor. Tinham mais coisas em casa, viajavam, eram mais felizes, a mãe era muito mais feliz e tinha mais tempo para eles. Resumindo, tudo mudou da água para o vinho. Foi muito legal, vários dos presentes choraram, incluindo ela, claro. Mas havia um cara lá na última poltrona, que não conseguia disfarçar o quanto estava chorando. Adivinhe quem era esse chorão? Eu, claro. Sei que muitos ali presentes choraram também, mas acredite em mim mais uma vez, você só vai saber que emoção é essa que tanto falo no dia em que for aprovado. É indescritível. O pessoal chorou como chora nas minhas palestras, mas meio perdido, sem entender o que está acontecendo. Só que o choro do aprovado não, é um choro que vem muito lá de dentro, é algo incontrolável, é um nervoso que dá, uma tremedeira nas pernas, um nó na garganta que fica completamente seca, uma vontade de sair berrando, sei lá, é muito estranho. E é um choro bom, muito bom.

Acredito que pelo tanto que já escrevi, e se você teve paciência para ler tudo até aqui, consiga me aturar mais um pouco. Vamos lá que ainda virão mais coisas para refletir depois.

Tem gente que quando me lê afirmando que é para estudar igual a um condenado deve pensar: “Este cara é um nerd, eu tenho família e amigos, preciso de um pouco de lazer pelo menos“. Colega, é óbvio que eu não quero privá-lo disso. É evidente que você deve dar atenção aos seus familiares e amigos. Menos do que dava antes, claro, mas tem que dar sim. Beije e abrace seus familiares, mais do que fazia antes, não tenha vergonha disso. Torne seus momentos com eles mais especiais, mais carinhosos. Que sejam menos intensos no tempo, mas mais intensos no afeto. Valerão muito mais do que antes. Quando você passar, por mais que eles estejam meio tristes com seu modo de viver hoje, vão ser os que mais ficarão felizes com isso. Vão contar para todo mundo na rua. Você nem vai ter esse prazer, porque os outros saberão antes de você contar. Quando alguém passa para fiscal ou algo parecido, é igual notícia ruim, espalha que é uma beleza. Sua mãe vai à manicure e quando a funcionária disser que viu uma receita de um bolo muito legal na Ana Maria Braga, sua mãe vai dizer: “Por falar em receita, você sabe que meu filho passou para Auditor Fiscal da Receita Federal?“. Quando o médico perguntar ao seu pai se ele quer um recibo, ele vai dizer: “Claro, meu filho foi recém aprovado para Fiscal de Imposto de Renda e me pediu para dar o exemplo, aliás, você, doutor, não deveria nem me perguntar isso, deveria dar recibos para todos, sem perguntar nada, porque não faz mais do que sua obrigação, MEU FILHO me ensinou isso“. E por aí vai, eles vão ficar procurando conversa na rua para dizerem o que o filho conquistou um belo cargo por seus próprios méritos e ainda vão dizer: “Eu sabia, puxou o pai/a mãe“. E isso não tem preço, pessoal, não há MasterCard algum que pague isso.

Outra coisa: não abandone seus maiores amigos, você vai precisar deles, passando ou não no próximo concurso. Tente fazê-los entender que é seu projeto de vida, mas que ainda gosta muito deles. Por que alguém pode ir estudar ou viver nos EUA e continuar sendo seu amigo mesmo distante e não pode continuar com a mesma amizade se você está trancado estudando em casa? Ué, a amizade permanece do mesmo jeito. No dia que passar, ligue para todos e dê a notícia. E não se esqueça de encher a cara com eles no dia do seu primeiro pagamento. E se algum deles não se importar muito e esquecer de você, fique aliviado também, porque descobriu alguém que não era seu amigo de verdade. Você encontrará outros melhores.

Procure pela sua mais forte MOTIVAÇÃO: Apenas para contextualizar, um pouco antes de voltar a estudar em 2005, meu pai foi fazer um exame de rotina e descobriu que estava com o coração mais entupido que a marginal Tietê em véspera de feriado. Resultado: 6 pontes-safena, às pressas. Peguei duas semanas de licença na Prefeitura para acompanhá-lo em sua recuperação no hospital, no Rio. Bem, ele teve uma complicação nos pulmões após a cirurgia, por bem pouco não foi embora, e quando estava um dia sozinho no quarto comigo, meio grogue dos remédios e da dor, disse para mim: “Meu filho, você é tão inteligente, veja seus amigos que estudaram para concursos com você, todos estão em cargos que pagam bem mais do que o seu, então por que você não volta a estudar? Você é inteligente, é esforçado, merece muito mais“. Ele nunca tinha me dito aquilo. E hoje ele não se lembra de ter me dito. Depois ele me disse que sempre pensou nisso, mas nunca tinha tido coragem para me falar. Aquilo mexeu realmente comigo. Foi um dos grandes motivos para eu voltar a estudar com tudo naqueles quase seis meses até a prova do AFRF. Estudei o máximo que consegui, o ritmo foi realmente punk. No dia que saiu o resultado, eu peguei o telefone imediatamente e liguei para meus pais, no Rio. E disse ao meu pai, com minha mãe ouvindo na extensão: “Pai, passei em sexto lugar para Auditor da Receita Federal aqui em MG, e fiz isso em sua homenagem, obrigado por tudo que fez por mim, obrigado você também, mãe“. E eu desliguei o telefone, porque não conseguia parar de chorar e berrar. Algum tempo depois minha mãe me ligou dizendo: “Meu filho, você não pode fazer isso com seu pai, ele está se recuperando ainda, e está lá sentado no sofá chorando sem parar, estou com medo dele ter um troço“. E eu tive que tranquilizá-la, dizendo: “Mãe, fique tranquila, se ele não enfartou quando liguei, não enfartará mais, ainda, ele está com tudo desobstruído agora, está menos entupido do que eu“. E hoje meus velhos estão lá, com seus 82 e 78 anos, procurando conversas pelas ruas, esperando uma “deixa” para contar que seu filho é fiscal. E naquele longínquo, mas inesquecível, dia 16 de janeiro de 2006 eu desliguei o telefone e continuei ouvindo a todo volume “Fear of the Dark“, do Iron Maiden, afinal, estava livre do meu medo da escuridão.

Use seu dinheiro para livros e cursos. Faça programas baratos. Não compre roupas caras, isso é ridículo. Uma calça de R$200 ou R$300 vale o preço de alguns livros. E se sua vida é dentro de um cursinho, o pessoal vai olhar muito mais para seu livro novo ou todo rabiscado do que para sua marca de calça. Depois que passar, gaste sua grana do jeito que quiser, mas antes não, sua grana, se é que há alguma, é para livros, cursos e lazeres baratos. Também não entendo concurseiros que reclamam que não podem pagar livros ou cursos, mas usam iPhones. Por mais que você gaste dinheiro com seus estudos, no primeiro ou no máximo no segundo salário já terá pago todo esse investimento e aí sobrará o resto da sua vida para você viver com seu bom salário. Conheço poucos investimentos que trazem um retorno tão grande quanto o feito em bons livros e cursos para concursos.

Estude muito sim, com certeza, mas também deixe um pouco de tempo para seu lazer. E faça uma atividade física aeróbica, pelo menos três vezes por semana. Não perca muito tempo com academia, a não ser que você viva por conta do estudo e seja realmente viciado nisso. Faça uma caminhada na rua, ou corrida, se aguentar. Natação também é excelente. É mais do que comprovado cientificamente que fazer algum exercício físico aeróbico melhora sua concentração em pelo menos 15%, fora o ganho de saúde, disposição para estudar e qualidade no seu sono, que é importantíssimo.

Sei que muitos que estão lendo este texto vão desistir dessa vida de concurseiro um dia. A maioria desiste. Tudo na vida é assim. Na iniciativa privada também. É muito mais fácil desistir do que prosseguir com as dificuldades. Desistir é a melhor solução a curto prazo, mas muito provavelmente a pior das soluções a médio e longo prazo. Seus problemas continuarão aí, esperando por você quando desistir, só que agora vai ter uma chance a menos para solucioná-los. E uma boa chance, com uma boa solução, que é um cargo público.

Fases de desânimo vão aparecer muitas ainda. Mesmo depois que for aprovado. Mas depois delas, virão as fases boas, e essas compensam tudo. Está tendo uma entressafra nos concursos fiscais? Sim, está. Mas enquanto você está se lamentando e estudando menos, há milhares estudando, e muito. E quer saber? Muitos desses têm muito menos condições do que você de passar, e vão passar. Dei dois exemplos acima, o da ex-empregada e o do rapaz que estudava sob a luz do poste. E como eles há vários. Brasileiro é assim. É gente que acredita e que faz. Vejam os jogadores de futebol. Poucos tiveram boa educação, como o Kaká. A maioria veio de baixo, das favelas, e perante milhares de outros meninos que também queriam vencer no futebol, venceram. Isso é Brasil. É o país que seleciona os melhores por meio de concursos públicos, em que uma ex-empregada pode virar Auditora da Receita Federal. Desde que sou fiscal paulista, já conheci 26 países, a alguns fui mais de uma vez (oito viagens aos EUA, três à China, duas à Tailândia etc.), e por mais que eu tenha visto muita coisa legal lá fora, eu sempre voltei com mais certeza ainda que não troco meu país por nada. Tenho orgulho de ser brasileiro, e você vai ter mais ainda quando passar e puder arrecadar para ajudar o país a ter mais grana para fazer suas obras e investimentos. Trabalhe honestamente, este país não precisa de mais corrupção, precisa é de gente que tenha ralado muito para conseguir o cargo e que dê valor a ele.

Desanimar é válido, mas desistir não. Você nunca mais vai conseguir se olhar no espelho se desistir. A vida de concurseiro é um caminho sem volta. Ou você estuda até passar, ou será um eterno frustrado por não ter conseguido. E conviver com a derrota é algo muito ruim. Eu prefiro muito mais o jeito de eu me olhar no espelho hoje, dizendo a mim mesmo: “Você é o cara, você venceu os melhores, você passou quando muitos não conseguiram“. Faço a barba até mais lentamente hoje, de tanto orgulho em ver minha cara feia no espelho. Mas é a cara de um vencedor. Podem me chamar de feio, mas de perdedor nunca mais. Eu sou um vencedor, e aqui vem uma novidade para você: você também pode ser. E você já fez isso uma vez, quando conquistou o óvulo de sua mãe contra outros 100 milhões de candidatos. Você conhece algum concurso com essa relação candidato-vaga? 100 milhões por vaga? Você se inscreveria nesse concurso? Pois é, você se inscreveu, estudou todo o programa do edital e foi uma espécie de Deme dos espermatozóides, foi o 1º lugar!

Tem gente que me escreve dizendo: “Obrigado por você ter me motivado“. Colega, vários livros de autoajuda dizem, e olhe que já li dezenas deles, que a melhor motivação é a que vem de dentro de você. Alguém só pode motivá-lo por alguns dias, talvez semanas. Algum curso que tenha feito, algum texto que tenha lido, alguma palestra a que tenha assistido etc., a motivação que eles trazem passa muito rapidamente. O que fica como motivação é a reflexão que você faz após eles. Você deve olhar para o lado, refletir sobre sua vida que não está legal do jeito que está e para onde ela está caminhando, e resolver acumular cada vez mais suas HBCs para resolver isso. VOCÊ é o único ser do mundo que pode manter sua motivação. Ninguém mais. Olhe para seu filho que poderia ter uma vida melhor, olhe para seus familiares que gostariam de lhe ver vencendo na vida definitivamente, olhe para seu nível de frustração atual, enfim, olhe ao seu redor. E pense: “Quando eu passar, vou resolver vários desses problemas“.

Colega, obrigado por ter “gasto” seu tempo lendo este texto até aqui. Espero que tenha gostado e que sirva de um bom puxão de orelhas para você. E espero mesmo que tenha gostado, porque depois que o escrevi em 2007 o sol tinha ido embora e eu quase voltei a ser branquelo como nos meus tempos de concurseiro.

Busquem esse sonho, mas lembrem-se do final da tal frase escrita anteriormente: “Você tem que construir seus alicerces“. E no seu caso, é estudando muito que irá os construir.

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Um abraço do Alexandre Meirelles, e muitas HBCs!

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